quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Andros e Ydrousa - III




~Ceavam sob a copa frondosa de uma majestosa árvore no topo de uma baixa e suave colina á beira do Grande Oceano, em uma mesa de pernas torneadas, formas arredondadas e cor clara, baixa o suficiente para que pudessem servir-se sentados ao chão. Por baixo estendia-se um vasto tapete rubro e dourado de traços persas que, com sua textura sedosa combinada à maciez da relva esmeralda, oferecia ao tato d'Eles um paraíso cândido de suavidade. Imponentes porém finos raios de um sol poente penetravam por entre as milhares de pequenas folhas da grandiosa árvore de tronco claro, peneirando a majestade do sol em gentileza e brilho e fazendo refletir nas jarras e cálices de metal pequenas estrelas aqui e ali.
*

~O banquete era farto. Em três jarras, de outro, prata e cobre havia vinho, leite e néctar de tangerina. Em bandejas de variados tamanhos e formas achavam-se uvas, pão, um dourado frango assado e recheado e os mais variados tipos de queijos, todos de aromas intensos e singulares. Em duas caçarolas ornadas haviam sopas, seus vapores cheirosos permeando o ambiente. Além da comida encontravam-se perto incensos, um narguilé e uma flauta transversal. A existência, tanto material quanto espiritual era mais densa e intensa e até mais extensa em si mesma, nas redondezas da grande árvore, e o ar vibrava com vida, profunda e jovem.

*

~Trataram de servir-se. Ele encheu um cálice com vinho e um prato com sopa. Ela serviu-se do néctar, que era da mesma cor do sol, fatiou para si um pequeno e magro naco do frango assado e acomodou junto um pouco de queijo. Comiam com gosto e de forma despreocupada – deixavam escapar palavras quando tinham a boca cheia. Provavam das iguarias e se serviam de mais, conforme a vontade. Misturavam pratos com todas as combinações que mantinham brilho e intensidade nos sabores. Beberam e comeram, perenes e insaciáveis até a noite cair e o vinho subir á Suas cabeças. Acenderam velas para a alvorada e novos incensos para a noite. A brisa e a canção da maré, antes baixa e imperceptível, agora era intensa e musical, e trazia frescor para os ouvidos e para a pele.

*

~Acendeu-se então uma discussão. Começou sobre música e logo dirigiu-se para tudo que era artístico e poético. Enquanto ainda comiam, as palavras saiam suaves e despretensiosas. Porém, ao terminarem o desjejum, elas jorravam inflamadas, orgulhosas e inspiradas. Não tratava-se de uma discussão hostil, ou um embate de idéias diferentes – acontecia o contrário. Desenvolviam idéias e brincavam com as palavras, fazendo poéticas acrobacias e criando instantâneas poesias com afirmações douradas e questões profundas. Degustavam, sentiam, teciam, brincavam, cantavam e poetizavam cada palavra como fogos de artificio jogados para o alto e precipitados em forma de chuva colorida, que fertilizava o solo das palavras e fazia nascer sorrisos e idéias. Terminaram a discussão quando a lua já ia alta e sua luz cantava a canção da noite. Para acompanhá-la, Ele empunhou a flauta que jazia sobre uma almofada ao seu lado e passou a sussurar uma bela canção, que soava suave pelo ambiente como uma brisa de primavera por sobre a pele dos apaixonados. Era colorida e floral, tal qual a estação, e brilhava com orgulho faiscante. Suas linhas melódicas dançavam e rodopiavam pelo ar fazendo espirais musicais e ramos dourados de canções épicas. Ela mergulhou a música com uma voz profunda e intensamente viva, que se derramava pela mesa, pelo tapete e por toda a colina como mel divino e delicado. Juntavam-se numa dança etérea para fingirem saltar para um refrão – mas rapidamente voltando ao verso caudaloso e vivo.

*

“What a sight for my eyes
to see you in sleep.
Could it stop the sun rise
hearing you weep?
You're not seen, you're not heard
but I stand by my word.
Came a thousand miles
just to catch you while you're smiling.

What a day for laughter
and walking at night.
Me following after, your hand holding tight.
And the memory stays clear with the song that you hear.
If I can but make
the words awake the feeling.

What a reason for waiting
and dreaming of dreams.
So here's hoping you've faith in impossible schemes,
that are born in the sigh of the wind blowing by
while the dimming light brings the end to a night of loving.”

~Reasons for Waiting.

~E nesse romance musical seguiram por toda a noite, improvisando lirismos instrumentais e executando poesias harmônicas até encontrarem-se num abraço de Vênus. Largaram então os instrumentos para continuar a música no toque e no calor, numa erupção de notas sensuais que bailaram ao luar até o Sol nascer criança e ingênuo agradar “Bom Dia”, sem que sequer vislumbrasse a beleza do que ocorrera momentos atrás. Nunca houvera uma noite tão viva e hedônica quanto aquela, e nunca amanhecera um dia tão dourado quanto aquele, onde o Tempo era uma fênix cada vez mais bela e elegante, e os sonhos é que acordavam das belas mentes d'Aqueles que viviam e sabiam viver - viver para sempre e viver como uma canção.

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